Em 2016, os biólogos Maria Clara do Nascimento e Fred Victor de Oliveira (então estudante de Ciências Biológicas) encontraram durante um estudo de campo em uma fazenda na Caatinga do norte de Minas Gerais, um indivíduo jovem de uma espécie curiosa de sapo. O sapinho foi achado depois da chuva em uma mata ciliar bem alterada, e muitos indivíduos adultos podiam ser ouvidos cantando. O animal foi coletado e levado para o laboratório de herpetologia da Universidade Federal de Minas Gerais, onde eu então fazia meu doutorado.
Na UFMG, Fernando Leal ajudou a identificar o anfíbio como um indivíduo de Ceratophrys joazeirensis, uma espécie típica da Caatinga, com um registro no Cerrado mineiro (Buritizeiro). Embora possua uma ampla distribuição, ocorrendo do Rio Grande do Norte a Minas Gerais, esta espécie é conhecida para menos de 20 localidades. Isso porque possui um comportamento explosivo, ou seja, os indivíduos passam a maior parte do ano enterrados no solo, e dão as caras durante poucos dias de chuva, quando se reproduzem. Este comportamento é tão curioso que duas semanas após o registro feito pela Maria Clara e o Fred, eu estive no mesmo local onde encontraram o sapo, e não havia mais nenhum sinal da espécie. Este novo registro, publicado por nós no ano passado na revista científica Cuadernos de Herpetología, preenche uma lacuna de nada menos que 860 Km entre Buritizeiro (MG) e Feira de Santana (BA), as duas localidades mais próximas para onde o Ceratophrys joazeireinsis é conhecido. Mais um pontinho para colaborar com o conhecimento sobre a distribuição geográfica da nossa fauna.
Ceratophrys joazeirensis registrado em São João da Ponte, Minas Gerais. Foto: Fernando Leal.
Mapa com os pontos de ocorrência conhecidos para o sapo-boi Ceratophrys joazeireinsis. O ponto em vermelho é o novo registro, em São João da Ponte, Minas Gerais.
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Este "blog" ficou parado por mais de um ano, mas resolvi retomar as postagens sobre minhas publicações, de certa forma para manter um registro histórico.
Pois bem, vamos falar de 2021. Foi um ano em que publiquei pouco. Apenas três notas científicas, porém, trabalhos que acho bacanas. No primeiro deles, em parceria com Maria Clara do Nascimento, Alexander Zaidan e Anderson Marcos de Oliveira, relatamos o primeiro registro confirmado da coral-verdadeira Micrurus ibiboboca em Minas Gerais, mais especificamente no município de Almenara, nordeste do estado, região de Mata Atlântica. A serpente havia sido coletada anos antes, em 2005, pelo Prof. Renato Feio, e depositada na coleção de répteis do Museu de Zoologia João Moojen, da Universidade Federal de Viçosa. Mas o ineditismo do registro passou batido por todos, até ser notado pelo Anderson, então aluno de mestrado na UFV, que entrou em contato comigo. Eu sabia que a Maria Clara e o Alexander tinham registros da espécie na Reserva Particular do Patrimônio Natural Mata do Passarinho, bem na divisa entre Bahia e Minas Gerais e resolvemos juntar esforços para publicar os dados. Com isso, Minas Gerais passa a ter registros de seis espécies de corais-verdadeiras nativas, que são espécies de interesse médico, por conta da toxicidade do seu veneno. Na nota publicada na revista científica Oecologia Australis, nós ainda fizemos uma bela revisão de literatura dos registros desta espécie no Brasil, disponíveis em um mapa dentro do próprio trabalho e em uma planilha detalhada no material suplementar.
Exemplar de Micrurus ibiboboca preservado no Museu de Zoologia João Moojen, da Universidade Federal de Viçosa (MZUFV 1209), coletado na Fazenda Limoeiro, Almenara, Minas Gerais. Primeiro registro confirmado da espécie em território mineiro.
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AutorHenrique C. Costa Histórico
January 2024
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