A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instituição conde trabalho, publicou uma reportagem legal sobre um estudo recém-publicado com o qual tive a oportunidade de colaborar junto outros 31 cientistas: o Atlas das serpentes do Brasil, coordenado pelo Dr. Cristiano Nogueira (USP).
A matéria pode ser lida no link a seguir: https://www2.ufjf.br/noticias/2020/01/30/o-atlas-das-serpentes-brasileiras/
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Nova espécie de anfisbênia do Brasil e a importância das coletas em estudos de impacto ambiental1/10/2020 O Brasil é talvez o país com a maior biodiversidade do mundo. Ou seja, nenhum outro lugar abriga um conjunto tão grande de formas de vida como aqui. Descrever tamanha diversidade é ainda um imenso desafio, trabalho dos taxonomistas, especialistas em comparar e identificar as espécies. Eu, por exemplo, sou um taxonomista de répteis e venho trabalhado mais intensamente nos últimos anos na identificação de espécies de anfisbênias, grupo de lagartos de corpo alongado e geralmente sem membros, extremamente adaptados à vida no subsolo. Nesta semana, o resultado de mais uma pesquisa com esses curiosos animais foi publicado na revista científica Journal of Herpetology. Trata-se da descrição de uma nova espécie, feita em parceria com outros dois colegas professores universitários e cientistas: Leonardo B. Ribeiro (Universidade Federal do Vale do São Francisco) e Samuel C. Gomides (Universidade Federal do Oeste do Pará, Campus Oriximiná). O estudo foi desenvolvido enquanto eu era pesquisador em pós-doutorado na Universidade Federal de Viçosa, no ano passado. O trabalho começou quando Leonardo, que é curador da coleção científica de répteis do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga recebeu um lote de exemplares de anfisbênias (popularmente conhecidas como cobras-de-duas-cabeças em muitas regiões do país) coletadas durante a supressão vegetal para instalação de uma usina eólica em Sento-Sé e Umburanas, estado da Bahia. Os animais foram coletados por biólogos que acompanhavam as atividades de supressão vegetal. Após um exame preliminar, Leonardo não conseguiu identificar os exemplares e entrou em contato comigo e Samuel (juntos, nós três já havíamos descrito em 2018 uma espécie da mesma região, que chamamos de Amphisbaena kiriri, em homenagem à etnia indígena nativa de lá). Após examinarmos com cuidado todo o novo material, concluímos que a morfologia daqueles animais os distinguia de todas as espécies conhecidas de anfisbênias (umas 200 no mundo e quase 80 no Brasil). Infelizmente, não havia material genético preservado para uma análise de DNA, mas ainda assim foi possível descrever aquela série de cerca de 30 exemplares como membros de uma nova espécie, nomeada Amphisbaena acangaoba (acangaoba pode ser traduzido da língua indígena tupi como "capacete" ou "capuz" e faz referência ao formato da cabeça do bicho). A descrição desta nova espécie só foi possível porque os estudos de impacto ambiental envolviam a coleta de exemplares, algo que em muitos empreendimentos pelo Brasil vem sendo negligenciado. Se os indivíduos não tivessem sido coletados durante a supressão vegetal, sequer saberíamos da existência desta nova espécie. Mas, com sua descoberta, agora podemos planejar novos estudos na região em busca de novos exemplares, especialmente no Parque Nacional Boqueirão da Onça (uma área protegida a poucos quilômetros de onde foi instalada a usina eólica) e para aprendermos mais sobre sua biologia. Portanto, é essencial que os licenciamentos ambientais envolvam a coleta de espécimes, que representarão um testemunho da biodiversidade daquela área antes do impacto do empreendimento em licenciamento. PS: Aqui, cabe um adendo. Obviamente, as coletas a que me refiro não incluem espécies ameaçadas de extinção (exceto indivíduos encontrados mortos, por exemplo, por atropelamento). Fora isso, a coleta científica é fundamental não apenas para a taxonomia, mas para dezenas de outras linhas de pesquisa (ecologia, histologia, etc), e deve ser conduzida por pessoas experientes, éticas e com as devidas licenças. Exemplar de Amphisbaena acangaoba. Cabeça de uma Amphisbaena acangaoba em vista dorsal, lateral e ventral. |
AutorHenrique C. Costa Histórico
January 2024
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