As anfisbênias (Amphisbaenia) constituem um grupo peculiar de répteis de corpo alongado, sem membros (a exceção fica para três espécies do México, que possuem membros anteriores), recoberto por uma série de escamas retangulares formando anéis. Evolutivamente falando, são nada menos que um grupo de lagartos altamente especializado à vida subterrânea. E é justamente este hábito fossorial que dificulta bastante seu estudo. Conhecemos hoje cerca de 200 espécies de anfisbênias, distribuídas na América do Sul, Caribe, Flórida, algumas regiões do México, Portugal, Espanha, Grécia, Turquia, África e Oriente Médio. Muitas espécies são conhecidas com base em poucos exemplares, às vezes apenas um. Encontrar e descrever novos exemplares torna-se importante para compreendermos melhor, por exemplo, a variação morfológica e a distribuição geográfica desses bichos. Isso reforça a base do conhecimento sobre a biodiversidade, que depois pode ser aplicada em novos estudos e em estratégias de conservação. Durante meu doutorado, trabalhei com anfisbênias. Duas das pesquisas realizadas já foram publicadas, uma delas no início de 2018 e a outra agora. No primeiro estudo, em parceria com pesquisadores da Venezuela, reanalisamos os dois únicos exemplares conhecidos da espécie Amphisbaena rozei, encontrada na Amazônia venezuelana. Descrita em 1963, esta espécie praticamente não foi mais estudada. O que fizemos então foi “redescrever” a espécie, ressaltando em quais características ela se diferencia de outras espécies do grupo. Além disso, refinamos a informação sobre o local de origem dos dois exemplares conhecidos, algo importante inclusive para que novas buscas possam ser feitas em campo. O segundo estudo, que acaba de ser publicado, possui algumas similaridades com o anterior. Desta vez, estudamos a espécie Amphisbaena slateri, conhecida até então por apenas três exemplares da Bolívia e Peru, em áreas bem próximas à cordilheira dos Andes. Junto a pesquisadores da Alemanha e dos Estados Unidos, relato a existência de dois exemplares adicionais dessa espécie, até então “esquecidos” nas prateleiras dos museus de história natural de Hamburgo (Alemanha) e do Kansas (EUA). De posse dos novos dados, ampliamos o conhecimento sobre a morfologia e sobre a distribuição geográfica de A. slateri. Além de gerar novos conhecimentos sobre essas duas espécies, esperamos também que as informações publicadas por esses estudos ajudem outros pesquisadores e estudantes na identificação de exemplares de anfisbênias dos países em questão. Certamente, os próprios museus de história natural da Bolívia, Peru e Venezuela possuem vasto material que, se reidentificado, poderá trazer à tona novidades interessantes.
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AutorHenrique C. Costa Histórico
January 2024
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