Acaba de ser publicado na South American Journal of Herpetology, revista da Sociedade Brasileira de Herpetologia, um artigo fruto das minhas pesquisas de doutorado, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre 2014 e 2018. Neste trabalho, feito em colaboração com a então graduanda Sofia Velasquez e meus orientadores, Paulo C. A. Garcia (UFMG) e Hussam Zaher (Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo), apresentamos novas informações sobre três espécies pouco conhecidas de anfisbênias. A primeira delas é Amphisbaena hiata. Descrita em 2002 a partir de exemplares da Argentina, a espécie é agora registrada pela primeira vez no Brasil, com base em um indivíduo depositado na coleção zoológica da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (ZUFMS), coletado na Fazenda Patolá, município de Porto Murtinho, bem na divisa com o Paraguai. Esta região é muito interessante, pois apresenta uma transição entre o Cerrado e o Chaco, um tipo de vegetação típica de alguns países vizinhos, como Argentina e Paraguai, mas que por aqui praticamente só existe lá em Porto Murtinho. A descoberta de A. hiata no Brasil agora reforça a hipótese de que a espécie também ocorra no Paraguai, onde ainda não foi encontrada. Outra espécie tratada no artigo é Amphisbaena metallurga, descrita em 2015 por mim e colegas da Fundação Ezequiel Dias (FUNED) e USP. Até então, A. metallurga tinha sido registrada apenas no município de Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais, mais especificamente em uma área onde um mineroduto foi instalado. Agora, com base em cinco novos exemplares depositados no Museu de Ciências Naturais (MCN) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), sabemos que A. metallurga ocorre em uma região mais ampla, mais especificamente nos municípios de Barão de Cocais e Itabira, a 110 e 85 km, respectivamente, de Conceição do Mato Dentro. A última espécie estudada foi Amphisbaena sanctaeritae, descrita em 1994 e que até agora era conhecida apenas por um único exemplar, coletado em Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo. Analisando material da coleção do MCN, encontramos mais três exemplares de um município ali do lado, Santa Rosa do Viterbo. Além de novas informações sobre a distribuição geográfica dessas três espécies, nosso estudo trouxe novos dados sobre sua morfologia, fazendo necessário até mesmo revisar as características diagnósticas de A. metallurga e A. sanctaeritae, para que outros cientistas possam identificar essas espécies com mais precisão. Outro ponto importante é que esses achados foram possíveis graças ao esforço de muita gente envolvida na manutenção e curadoria de coleções zoológicas, essenciais para as pesquisas com biodiversidade. Mais interessante ainda é que o material estudado está em coleções relativamente pequenas, na UFMS e no MCN, o que reforça sua importância no cenário científico. Mapas mostrando a distribuição geográfica de Amphisbaena hiata (vermelho), A. metallurga (azul) e A. sanctaeritae (verde). Os novos registros são representados por losangos. Amphisbaena hiata (A), A. metallurga (B) e A. sanctaeritae (C). Vista dorsal, ventral e lateral da cabeça.
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AutorHenrique C. Costa Histórico
January 2024
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